sábado, 3 de janeiro de 2015

Nós sempre teremos Paris

Num aeroporto no Marrocos, numa noite chuvosa, Rick Blaine lembra Ilsa Lund, ao ajudá-la a fugir do domínio nazista no território controlado pela República de Vichy. Rick e Ilsa se amaram em Paris, mas então veio a guerra e eles seguiram caminhos separados. Ele, montou um bar em Marrocos; ela casou com um líder da resistência anti-nazista tcheca. Caminhos separados que se reencontram. E, ainda assim, eles não podem mais se unir. Mas Rick é quem lembra: "nós sempre teremos Paris". Mesmo que nossos caminhos se separem, Paris - e todas as lembranças que vêm junto - estará sempre ali, em nossa memória.


Essa cena antológica do filme Casablanca serve para a gente poder se despedir de Paris e também do blog. Foram 4 meses muito intensos, onde o tempo praticamente se arrastou e voou com a mesma força. 2014 foi um ano muito emocionante, cheio de grandes momentos e com tanta coisa nova acontecendo que parece até que foram 5 anos dentro de um só. E nesses primeiros dias de 2015, quando faremos nosso retorno ao Brasil, deixamos o blog já um pouco cansados, mas felizes sempre que relemos os textos. Foram postagens sempre focadas nas nossas impressões e tentamos fazer disso um projeto diário, para não perdermos nada - mesmo quando não tinha nada para falar. Era também um projeto político: a zueira era a nossa referência para não se deixar deslumbrar, para não cairmos naquela máxima de "só no Brasil", para não pensarmos a Europa rica e luxuriosa sem a contrapartida de sua riqueza, que somos nós, os latino-americanos, os imigrantes, os africanos, os asiáticos...o blog também foi um experimento político, não esqueçam disso.

Por conta disso, pode parecer um pouco triste afirmar que este é o nosso último texto mesmo. Algumas estatísticas do blog são muito significativas para nós: foram 123 postagens e 8.364 visualizações de página. Alguns posts chegaram a mais de 150 visualizações, mostrando que muitos dos nossos amigos e familiares curtiram. E não só eles: gente que nem conhecíamos também passou a visitar o blog, pegando dicas, ou simplesmente concordando com algumas das nossas colocações. Porém, ele não foi feito para só para dar dicas, ou só para ficar se vangloriando. O nosso objetivo era ter um espaço virtual para colocar as nossas impressões e dividir elas com as pessoas, tentando com isso manter uma ponte de contato com o Brasil. Logo, ao retornar para o Brasil, essa ponte fica de lado temporariamente.

Temporariamente, claro, porque ninguém sabe o dia de amanhã. Vai que podemos precisar restabelecer pontes com o Brasil, né? Mas é isso, até segunda ordem, interrompemos a nossa saga com a certeza de que fomos felizes. E é por isso que escrevemos: para conseguir processar e lidar com esses sentimentos e experiências. Foi na escrita que nos encontramos com os amigos, que dividimos as alegrias e as surpresas de uma terra que nem sempre foi perfeita, mas sempre foi Paris, Barcelona, Bruxelas, Berlim, Cracóvia, Roma, Girona e Praga. E, no meio de tudo isso, os amigos que vimos por aqui e que fizemos aqui. A eles, todo o agradecimento que houver nesse mundo.

E é isso, gente. O blog segue aberto, quem sabe outros viajantes pelo mundo a fora se identificam, compartilham impressões...quem sabe, quem sabe...

Só sei que teremos Paris. Toujours

A bientôt.
Ju e Fe

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A Saga do Louvre - parte 3

Falta pouco pra gente retornar para o Brasil, então hoje tentamos programar dois passeios: ir ao Louvre (pela terceira vez) e tomar uma cerveja nas nossas zonas preferidas. A missão foi cumprida, claro, então trata-se de escrever um pouquinho sobre a nossa última ida ao museu.



É verdade que eu e a Ju gostamos muito de ir em museus. Aqui na Europa tivemos excelentes passeios na maioria das vezes, mas tivemos experiências ruins também. A quantidade de museus em Paris fez com que demorássemos bastante para programar as visitas ao Louvre, mas quando finalmente aconteceu, valeu a pena. E a nossa segunda ida também foi boa. Mas e essa terceira, que foi a última? Que tal foi? Temos algo novo a dizer?

Bem, em parte, sim. Faltava ainda para nós dois andares inteiros. E queríamos tentar ver tudo, mas...infelizmente, não foi possível. De fato, curtir o Louvre inteiro é uma tarefa para 5, 6 dias, dependendo do fôlego. E acreditamos que isso se dá por dois motivos: o tamanho colossal do museu e o fato dos acervos serem um pouco repetitivos e com pouca interação. Uma regra que aprendemos aqui é que nem sempre "mais" é igual a "melhor". O Louvre tem, de fato, um acervo gigantesco e foi o maior museu que já vimos na vida. Mas se me perguntarem se é o melhor...bem, aí fico meio hesitante...

Em relação aos museus europeus, o Louvre tem um dos melhores preços: 12 euros a entrada e gratuidade para qualquer um abaixo de 18 anos (e estudantes até 26 não pagam também). Para quem vem do Brasil, onde cobrar por museus não é um hábito, achamos ruim. Mas dada a nossa experiência com outros museus europeus, 12 euros é um bom preço dado o tamanho da estrutura.

Mas e as obras??? Bom, quanto à parte de acervo histórico eu sou suspeito. Achei incrível mesmo, algo fora de série poder ver maravilhas como o Código de Hamurábi, hipopótamos azuis e uma múmia egípcia, a Vênus de Milo, cerâmica islâmica, entre tantas outras coisas que estavam no meu imaginário por conta de filmes e livros. Contudo, hoje fomos visitar a parte de arte. E toda a parte de Renascimento italiano é interessante, mas muito cansativa. Isso porque os quadros não estão situados em movimentos estéticos, o que torna a compreensão deles pouco didática. É como se eles fossem enfileirados em ordem, sem muitas explicações acerca deles. Isso é muito comum, claro, mas dado o tamanho do acervo, as coisas ficam cansativas.



Algumas coisas beiram o nível do surreal. Ver a Mona Lisa, por exemplo, foi um exercício de paciência. Em dado momento, desisti de tirar uma foto dela e resolvi tirar fotos das pessoas tirando fotos dela...porque, convenhamos, aí meu lado antropólogo falou mais alto.



Já outras dão uma certa tristeza...por exemplo, a parte de pinturas da região dos Flanders, na Bélgica, é bastante cansativa e não tem nenhuma explicação. Puxa, era um dos centros do Renascimento...podia ter uma problematização maior, né?



E outras...bom, outras valem cada suspiro dado nessa vida. E aqui eu me refiro à obra de Delacroix, A liberdade guiando o povo. Eu quase chorei ao ver essa, mas isso porque achávamos que ela não estava mais em Paris - em outubro a Ju tinha visto que ela tinha ido para Lyon, numa exposição itinerante das obras do Louvre pela França. E esse é o tipo de situação que vale o ingresso: quando você menos espera, algo que você já viu em algum momento da vida aparece ali, diante dos teus olhos. Não é livro, não é reprodução. E só por isso eu já diria para vocês: o Louvre vale ser visto, sim!



Mas é bom salientar...essa última etapa da nossa saga nos fez pensar que o museu tem como peculiaridade tentar juntar um pouquinho de tudo da História da humanidade (a partir de uma perspectiva eurocêntrica, claro). Isso é bom, mas nessa parte de arte sentimos que era tão grandiosa a pretensão que muita coisa ficou para trás. E para ver arte do século XIX em Paris, o Museu de Orsay e a Orangerie são as opções. Para ver arte moderna, do século XX em diante, tem que ver o Pompidou. E por aí vai. O Louvre tenta falar de tudo e de tudo com propriedade. Nem sempre consegue, o que torna ele muitas vezes cansativo ("a gente já não viu esses quadros?"). Mas no final das contas, a saga mesmo foi ter feito a visita, ter enchido os olhos de lágrimas e a mente e o coração de memórias.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Bonne Année

Ontem e hoje foram dias de comemorações por todos os cantos, aí, aqui e acolá. Aqui nas Oropa, tivemos a sorte de termos os últimos dias bem claros e ensolarados, com temperaturas "aguentáveis" para ficar na rua e aproveitar a cidade. Se no Natal Paris deu uma esvaziada, depois dele a cidade lotou! Metrôs, supermercados, pontos turísticos: tudo cheio de gente pronta para comemorar a "virada" na cidade.

O problema, até então, é que Paris não tem muita tradição de festas de ano novo ao ar livre com queima de fogos e todas essas coisas que estamos acostumados no Brasil (e em vários outros lugares do mundo). Parece que o pessoal não comemora muito a data por aqui, pelo menos não como a gente por aí. Alguns vão para a Torre, outros vão para a Champs, mas só vão mesmo, não há nada lá. Mas esse ano algumas coisas mudaram: parece que fazia 15 anos que a cidade não tinha queima de fogos no ano novo e que essa teria sido uma das promessas da prefeita Anne Hidalgo (do PS) durante a campanha. Madame Hidalgo ganhou e cumpriu a promessa: um rendez-vous foi marcado para às 23:30 na Champs Elysées, onde haveria queima de fogos e projeções no Arco do Triunfo. A rua foi então fechada, disponível somente para pedestres e o metrô estava liberado das 17h até o 12h do dia seguinte (algumas linhas funcionavam até 2:15 e outras mais centrais 24 horas).

Assim, logo depois da nossa "ceia" (deliciosos salgadinhos do Picard), partimos em direção à avenida, com metrô liberado e com uma temperatura agradável para os padrões do inverno europeu: ou seja, uns 6 graus. Descemos na Place de La Concorde, fim da avenida, e seguimos até o Arco, acompanhando a movimentação e a marcha mais ou menos silenciosa (não tinha música, gente!) da multidão. No caminho, algumas barraquinhas de kebab, outras de espumante, outras de cerveja. Muitos turistas, de todas as idades (vimos muitas crianças), e muitos franceses também.



O espetáculo de "video-morphing", como eles chamaram, começou às 23:50 e projetou vários pontos turísticos de Paris direto no Arco, fazendo aquela narrativa tipicamente parisiense - que é uma mistura de "como sou foda" com um narizinho de cheira-peido. Mas ainda assim, foi lindo e emocionante, gente!

Mas há uma crítica: muito curto! Comentamos isso entre nós, falando das queimas de fogos no Brasil e juro para vocês que ouvi outros brasileiros falando a mesma coisa. "Foi bonito, mas foi curto" é o veredito tupiniquim. Se alguém está procurando emprego em Paris, diria que esse é um bom investimento, eles têm muito a aprender com a gente.

Para os amantes da cidade luz, recomendo fortemente ver os vídeos abaixo. O primeiro é uns trechos da projeção de vídeo e o segundo é a queima de fogos completa e em ótima resolução, no site da cidade.



Já o vídeo completo e em ótima resolução, pode ser visto aqui.

Joyeuse Année à Tous et à Toutes! Et merci, Paris! ;)

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

15 momentos da retrospectiva europeia de 2014

Alguns dos melhores momentos que tivemos em 2014, bonitos e bonitas. A gente curtiu muito essa experiência e ela está ficando cada vez melhor - ainda que no final. Então fizemos uma mini seleção de good times para lembrar do 2014.

1) Visitar a "Casinha dos Smurfs", em Bruxelas: ficava no Museu dos Quadrinhos, lá na Bélgica. E a Ju adorou, ficou ali dentro um tempinho, pedindo fotos. É aquele momento onde a gente volta a ser criança. C'est mignon, como dizem os caras daqui.


2) O 11éme, aqui em Paris: é a nossa zona favorita ainda aqui na cidade luz. Barzinhos alternativos all the way, muito kebab rolando nas ruas. Desde a nossa primeira ida (o nosso primeiro boteco foi o Pili Pili) até as nossas últimas idas no frio, nosso bom programa era tomar uma pint por aqui.


3) Pizzas com Peroni, em Roma: adoramos Roma e os romanos. Mas a coisa mais legal foi ter tomada cerveja barata e comendo pizzas deliciosas. A nossa primeira pizza foi numa praça, a Santa Maria dei Trastevere, onde compramos uma birra e duas pizzas deliciosas, ficando numa fontana. Começou a chover, mas depois fomos para uma pizzaria.



4) Ter conhecido a Ricota e falado sobre Falcone, em Roma: e mais legal ainda em Roma foi todo o lance de espontaneidade. Num boteco baratinho da cidade, sentamos lá para tomar umas Peroni, a cerveja deles. Papo vai e papo vem, uma senhora entrou no bar com um cachorrão branco e pediu um gelatto. E o cachorro comeu tudo, claro, se lambuzando! Aí não resisti e fui puxar papo. Descobrimos que o cachorrão era uma cachorrona linda chamada Ricota. E para completar, o dono do bar ainda tinha cartazes do Falcone (o Falcão, ex-Inter) no bolicho dele. Rendeu conversas e risadas.



5) Ver os vitrais da Saint Chapelle: linda, linda, linda. A Saint Chapelle foi a nossa experiência religiosa mais surpreendente em toda Europa. Nem eu e nem a Ju somos pessoas religiosas, mas quando você vê os vitrais medievais da catedral de Luís IX, dá até saudade dos bons tempos da Idade Média (tá, nem tanto). Pena só que a rosa central da catedral, onde é reproduzido o Apocalipse - o livro mais legal da Bíblia - estava em restauração.



6) Visitar o túmulo do Jim Morrison, no Pére Lachaise: indo no cemitério mais famoso de Paris, a gente viu coisas muito legais e prestamos homenagens aos nossos mortos. Mas poucos túmulos foram tão emocionantes de ver quanto o do Jim Morrison, vocalista do The Doors. O túmulo infelizmente tá gradeado, já que tinha muita gente que fazia festinha no cemitério para um dos deuses do rock and roll. Mas a galera nem por isso deixou de fazer zueira e o local tá cheio de oferendas e homenagens para o homem.


7) Ver a capela Sistina, no Vaticano: ok, a gente realmente não curtiu o Vaticano. Muitas filas, muitas tourist traps...mas ver a Capela Sistina foi...uau! A experiência em si é maluca. A gente fica tudo empoleirado numa sala enorme e tem centenas de pessoas olhando para o teto. Se alguém tenta tirar uma foto, os guardinhas do museu vão correndo dar esporro - mas eu consegui tirar duas (fuck the police!!!). Mas foi lindão, gente. Antes disso, eu já tinha me comovido com o painel Escola de Atenas, do pintor Rafael Sanzio, que sempre foi um dos meus renascentistas favoritos e tá lá no Museu do Vaticano também.



8) Ter vivido para contar Auschwitz: não somos sobreviventes, claro, mas vivemos para contar. E acho que esse é o sentido de Auschwitz. Viver para contar. A necessidade de contar sempre vai ser grande. E se algum dia alguém perguntar, não vou dizer que não tem como contar, que não tem como falar, que tem que ver... tem que ver, sim. Mas é algo a se contar sempre.



9) Tocar no Muro de Berlim: tocar no muro é uma experiência louca. Eu e a Ju somos filhos dos anos 80 e temos alguma memória do muro caindo e coisa e tal. Sendo assim, tocar nele foi como retomar memórias infantis e adultas ao mesmo tempo. Dá para dizer que ele nem é tão legal, que muro tem em tudo quanto é lugar, que tem pedaços dele em qualquer lojinha de souvenirs em Berlim. Mas é uma memória - e é bom tocar uma memória, gente!



10) Rever o mar, em Barcelona: não era o Oceano, claro, mas era o Mediterrâneo - valeu, Braudel! E ver praia, ver mar, ver céu, ver palmeiras...é tipo a Bahia, mas falando catalão! E as praias de Barcelona, mesmo no inverno, eram lindas.


11) Ter feito o nosso vídeo pós-eleições: a gente nunca fez um vídeo, mas o contexto pós-eleições fez com que a gente tivesse necessidade de fazer um tentando comentar algumas coisas que nos assustaram muito. E saiu legal até, teve umas 500 visualizações, enfim. Foi massa!



12) Ter ido numa manif em defesa dos curdos e da luta deles em Kobane: foi lindo! Foi um dos momentos que eu achei mais emocionantes em toda a viagem. Toda solidariedade aos curdos e a sua luta - que não é só pela criação e reconhecimento do Estado Nacional, mas também por um projeto político de de libertação popular e feminina. Da praça da Bastilha à praça da República,


13) Ver o (e tocar no) Código de Hamurábi: desculpa, gente, mas eu quase lambi a estela milenar. Eu me controlei, mas fiquei ainda fascinado por aquilo. Numa pedrinha tão singela, o primeiro código de leis escritas da humanidade. E tava ali, diante de mim, na nossa primeira visita ao Louvre! Foi sensacional!



14) Noite em Berlim: nossa última noite em Berlim foi massa. O hostel onde estávamos estava mais ou menos vazio, era dia 22/12. E acabamos conversando com portugueses, belgas, italianos e também brasileiros, tomando boas cevas, ouvindo Raul Seixas (juro!). Foi uma boa noite!



15) Tudo isso e mais um pouco: teria tantas outras coisas para lembrar do que fizemos nesse ano. A gente foi só escrevendo, sem fazer ranking nem nada. Foram muitas experiências diferentes e que de uma forma ou de outra, queríamos muito dividir com vocês. De 2015 o que esperamos é isso: é que tenhamos cada vez mais coisas dividir com quem gosta da gente e de quem gostamos.

Bonne année, galera! :)

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Hoje não tem post...

...mas é porque estamos recebendo os queridos Guinter, Sana e Lígia aqui em casa. E amanhã, já sabem, né? Retrospectiva 2014, só os melhores momentos antes de tomar umas espumantes!

Neve!!! Nah, problemas na câmera :D


Beijos, galera!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Redefinindo estereótipos na Europa

A gente tende a achar que, por sermos todos brasileiros, somos todos iguais. Todos filhos do infame "jeitinho", que quando bem sucedidos, triunfamos apesar da nossa brasilidade. A gente adora quando um estrangeiro vem para o Brasil porque é quase como se ele reconhecesse algo de bom em nós, justo em nós, os vira-latas, que não nos reconhecemos nem uns aos outros. Aí a gente, que não é exatamente praticante da vira-latice, vem para a Europa e descobre que eles...bem, eles são todos iguais, mas com o jeitinho especial deles. A gente vem definindo e redefinindo alguns estereótipos por aqui e...bem, alguns são bastante curiosos.

1) Todos os homens franceses têm ombrinhos de frango. Isso exclui obviamente a comunidade descendente de africanos e árabes. Mas a verdade é que comprar roupas masculinas em Paris, para mim, foi um problema. Todos os parisienses parecem ser magros (é um desafio encontrar parisienses gordos, juro!), logo a numeração das roupas torna tudo difícil. Eu, que com 1,71m de altura tenho que comprar roupas "G" em Porto Alegre, aqui tenho que comprar roupas "XL" ou até "XXL"! C'est difficile!



2) Todo mundo que fala alto no metrô é latino. Nessa extensa comunidade que pega do México até a Patagônia (e inclui nós, brazucas-sangue-bom), dá para incluir também portugueses, espanhóis e, é claro, os italianos. Os italianos são ainda mais interessantes porque além deles falarem alto como um brasileiro, eles falam com as mãos também...como um italiano. Dá vontade de abraçar todos eles de tanta saudade que eu ando da zueira!

3) Todo parisiense que é carinhoso é imigrante. Ou descendente de imigrantes. Ou teve algum imigrante na família. Parece piada que basta conversarmos um pouco com algum nativo e pensarmos: "nossa, que sujeito simpático", logo em seguida ele revela que é marroquino, ou argelino, ou latino - e aí já sai falando alto. Não que os parisienses não sejam "educados" (a tal da politesse)...mas eles são bastante indiferentes no seu trato pessoal. É o pessoal que inventou o termo blasé, saca?

4) Todo belga é simpático. Vai entender, né? Antes de vir para a Europa, o nosso imaginário sobre a Bélgica se resumia ao Tim Tim. Mas depois de ter passado um findi em Bruxelas e ter encontrado alguns belgas nas nossas andanças europeias, tudo indica que o pessoal lá é bastante simpático. Eles falam francês, holandês, inglês (alguns) e até contam piadas - o que parece ser algo bem estranho para os padrões europeus.



5) Todo berlinense legal não é de Berlim. Essa quem nos disse foi uma moça chamada Anna (?), num trem que ia do aeroporto até a capital alemã. A Anna era de Hamburgo, mas fazia mestrado em Berlim. Segundo ela, ninguém é de Berlim. E como ficamos numa zona bastante cheia de imigrantes, tivemos essa sensação. Berlim parecia um pouco uma Babel, onde em determinado momento da noite misturávamos inglês, francês, espanhol e português...junto com os latinos e os belgas.

6) Todos os tchecos acham que são parisienses. Injustiça porque só estivemos em Praga. E Praga, como ela mesma se orgulha, é a Paris do leste europeu. E nada contra esse título, Praga é uma graça, a cidade é lindinha mesmo. Mas os tchecos que conhecemos lembravam os bons e velhos parisienses. Muito indiferentes...mesmo. E isso que eles bebem e fumam alucinadamente, mas ainda assim, conseguiram passar a impressão de blasé pra nós.

7) Todos os garçons italianos são gatos. A Juliane não me perdoaria por deixar essa de fora, mas tenho que dar o braço à torcer. Os caras são lindos! Todos os garçons parece que saíram de um catálogo de modelos, todos com barba por fazer, altos, bonitos... eu só não fiquei mais preocupado em Roma porque a Juliane sabe que eu sou meio-oitavado italiano, então tá de boas.

8) Todo trânsito em Roma é um horror. Em nenhuma cidade tive tanto medo de ser atropelado como em Roma. Ali, calçada é artigo de luxo e nas antigas ruas, passa carro, sim. E se elas são muito estreitas, não se preocupe: os italianos usam muito os carros que cabem 2, ou até 1 pessoa. Isso quando não usam aquelas lambretas, as "vespas", como se estivessem num maldito filme do Fellini.



9) Todo estereótipo é limitado. Esse texto não pretende, claro, ser ofensivo para ninguém. Todas as cidades que passamos nos deram experiências incríveis e em todas elas a gente encontrou pessoas legais e/ou situações sensacionais que nos fizeram pensar sobre esses estereótipos e, é claro, sobre nós. Afinal, a gente gosta de considerar que a zueira é a nossa parte constitutiva, que a nossa identidade pode ser positivada por isso. Mas até aí, esse blog também é sobre dialética, e sobre o que a gente acha que constitui o outro enquanto ele pensa que nos constitui. Sacou?

domingo, 28 de dezembro de 2014

Paisagens de inverno

Que aqui é inverno, geral já sabe. E como é esse inverno, já contamos aqui, mas como é a paisagem desse inverno? 

O nosso imaginário de inverno europeu é todo pautado pelo que consumimos de entretenimento no Brasil, assim temos algumas idealizações de paisagem europeias de frio. Na minha cabeça, havia alguma névoa, galhos secos, talvez neve dependendo do lugar, essas coisas. A gente inclusive tende a achar um tanto "sofisticado" essa coisa toda, mas na prática, depois de você sentir o budum do metrô ou descobrir que neve é legal em filme de Natal em Nova Iorque (na verdade pegamos pouca neve em Berlim, e foi bem chato: é ruim de passear, o bagulho derrete, molha o sapato, uó. Talvez uma nevasca seja mais bonito... ou não.), a vira-latice passa.

Mas tudo isso é para falar das paisagem que vimos por aqui nesse outono/inverno europeu. Elas são bastante diferentes do que nós, do sul, que temos/tínhamos inverno estamos acostumados, sobretudo poruqe sol que é pouco comum, e quando aparece não aquece, essas coisas. Lagartear comendo bergamota não faz muito sentido aqui no inverno, por exemplo, pois o sol não esquenta muito não (e descobrimos que a melhor berga europeia é a espanhola, que inclusive é a mais barata: é a que mais se parece com as nossas bergamotas comuns, enquanto as outras, como a da Córsega, lembram mais um limão com gostinho de bergamota, juro).

Assim, motivados pelo dia mais frio que pegamos em Paris (0 graus e sensação de... veja a figura abaixo) decidimos relembrar algumas belas (para alguns) paisagens de inverno.




Paris, dezembro.
Versailles, dezembro.

Paris, dezembro.

Paris, dezembro.
Berlim, dezembro.

Berlim, dezembro.

Berlim, dezembro.

Barcelona, dezembro.
Girona, dezembro

Girona, dezembro.

Paris, novembro.

Paris, novembro.

Cracóvia, novembro.

Cracóvia, novembro.
Praga, novembro.


Paris, novembro.


Praga, novembro.
Roma, novembro.


Bruxelas, outubro.
Dá pra reparar em algumas coisas: primeiro, o Mediterrâneo é lindo, lá tem sol e planta viva. Em Barcelona, Girona e Roma dá até pra ver um pouco de verde, um pouco de cor nas árvores, nas folhas. Segundo, que o leste europeu é realmente cinza. Quando chegamos em Praga, a moça que veio nos buscar disse que é comum o inverno de lá chegar a -10º C...e de vez em quando chega até - 20ºC!!! Quem viu nossas fotos em Auschwitz dá para ter uma noção também (disponíveis do Google Plus). Tal como nos filmes, o leste é cinza e o ocidente é coloridão, certo?

Não! Paris, Berlim e Bruxelas podem ser tão cinzentas quanto! Bruxelas, por exemplo, enquanto Paris ainda vivia dias de verão, com sol e calorzinho, já estava carregada de cores outonais, como se pode ver pela foto, que é de outubro. No caso de Berlim, até mais - obrigado, indústrias poluidoras. O inverno europeu tem a mesma cara em qualquer lugar não mediterrâneo, gente. E ainda que achássemos isso mesmo, ao ver ele ao vivo dá uma certa surpresa: árvores mortas, galhos secos, corvos ao redor. 

E o mais louco ainda é ver isso agora, em época de natal. Hoje acordamos, saímos para rua e tinha restos de pinheirinhos de natal nas calçadas. Isso porque o pinheiro é a única árvore viva que vemos ao nosso redor e o pessoal aqui usa o pinheirinho vivo mesmo. E como o bichinho morre, hoje parecia um bom dia para "reciclar" ele (leia-se, transformar o pinheiro em serragem).

As paisagens invernais aqui nas Oropa não são feias, não. Elas conseguem ter lá a sua beleza, mas tem também uma certa melancolia. E tendo a achar que depois dessa, nunca mais vou conseguir lidar bem com a tal da "estética do frio" no Brasil...